* Por Joane Almeida
A
palavra resiliência tem ganhado destaque nas últimas décadas,
especialmente em tempos de crise, mudanças rápidas e contextos adversos. Mas o
que realmente significa ser resiliente? Segundo Saavedra, Castro e Inostroza
(2012), a resiliência não é apenas um traço de personalidade, mas um processo
dinâmico e universal, que envolve a capacidade humana de superar dificuldades, ressignificar
experiências e projetar um futuro melhor.
Essa
capacidade não é construída de forma isolada. Existem diferentes abordagens
teóricas sobre a resiliência: algumas com um olhar mais biológico e
determinista, outras com foco na interação do indivíduo com seu ambiente social
e cultural. O que todas têm em comum é o reconhecimento da resiliência como uma
força que vai além da resistência: é um mecanismo preventivo e proativo, capaz
de transformar situações-problema em fontes de aprendizagem e crescimento.
As 12 Dimensões da Resiliência Humana
Com
base em estudos de Guajardo (2011), a Escala de Resiliência SV-RES representa
um avanço importante na compreensão prática da resiliência. O instrumento
propõe doze dimensões organizadas em quatro escopos, que refletem a forma como
o sujeito interage consigo mesmo, com os outros e com o ambiente:
1. Condições de Base
Referem-se
aos pilares que sustentam a forma de ver e interpretar o mundo:
- Identidade: o autoconceito construído a partir de valores
culturais, responsável por uma autodefinição relativamente estável.
- Vínculos: relações interpessoais significativas e redes sociais
de apoio que fortalecem a personalidade.
- Afetividade: capacidade emocional de criar vínculos com o ambiente
e consigo mesmo.
2. Visão de Si Mesmo
Diz
respeito à percepção pessoal e ao julgamento sobre as próprias capacidades:
- Autonomia: sentimento de competência e independência frente aos
problemas.
- Redes: sistemas de apoio estabelecidos no meio social e
familiar.
- Autoeficácia: crença nas próprias capacidades de superar
dificuldades.
3. Visão do Problema
Como
o indivíduo percebe, interpreta e reage cognitivamente à adversidade:
- Satisfação: percepção de realização e adaptação frente ao
ambiente.
- Modelos: experiências e pessoas que servem como referência na
superação de desafios.
- Aprendizagem: capacidade de extrair ensinamentos de situações
problemáticas.
4. Resposta Resiliente
É
a concretização da ação diante do desafio:
- Pragmatismo: habilidade prática de avaliar e resolver problemas
com os recursos disponíveis.
- Metas: definição de objetivos e projeção de futuro.
- Generatividade: criatividade para gerar novas respostas diante dos obstáculos.
A Interconexão dos Escopos Resilientes
Esses
quatro escopos não funcionam de maneira isolada. Pelo contrário, interagem
constantemente, formando a base sobre a qual a resposta resiliente é
construída. Por exemplo, as condições de base — como crenças, vínculos e
afetividade — moldam a maneira como a situação-problema é percebida e
interpretada. Isso influencia diretamente a visão de si mesmo, que pode
reforçar (ou enfraquecer) a ação resiliente orientada por metas.
A
memória de segurança emocional, os valores culturais internalizados e os modelos
de superação aprendidos ao longo da vida são elementos fundamentais nesse
processo. Eles podem tanto limitar quanto potencializar a forma como o
indivíduo reage diante de uma crise.
Por que falar de resiliência hoje?
Vivemos
tempos complexos, onde questões biopsicossociais e culturais afetam
profundamente o bem-estar e a saúde mental das pessoas. Compreender a
resiliência em suas múltiplas dimensões nos permite não apenas acolher a dor e reconhecer
a vulnerabilidade, mas também despertar recursos internos e externos que nos
ajudam a seguir em frente, com mais consciência e propósito.
Fomentar
a resiliência é, acima de tudo, acreditar na capacidade humana de transformação
— não apesar das adversidades, mas a partir delas.
REFERÊNCIAS:
GUAJARDO, E. S. Pesquisa
sobre resiliência: Alguns estudos qualitativos e quantitativos. Editorial Academia Española, 2011.
SAAVEDRA, E. et al. Niveles de resiliencia en adultos
diagnosticados con y sin depresion.
Pequén, v. 2 (1), p. 161-184,
2012. Disponível em:
http://revistas.ubiobio.cl/index.php/RP/article/view/1839.